Será que Portugal pode ser considerado o Vale do Silício da Europa? De fato, o país possui um ecossistema muito vibrante e, durante a última formação que a Global Mentoring Group realizou em Portugal em 2019, percebemos que estavam surgindo diversas startups no período. Uma das motivações para esse movimento foi o Web Summit, um dos maiores eventos do mundo que reúne diversas pessoas do setor de inovação e empreendedorismo: investidores, startupeiros, pessoas buscando network, autores e palestrantes.
Mas somente receber um mega evento torna um determinado lugar o próximo Vale do Silício? Obviamente que não. São necessários muitos outros atributos para fazer com que um local seja um polo da tecnologia e inovação. É perceptível que toda capital que se intitula o Vale do Silício de determinado lugar já está, de alguma forma, oferecendo o merecimento ao original, que é algo muito difícil de copiar.
No entanto, Portugal já apresenta algumas similaridades ao Vale e realmente é um grande ecossistema de inovação. É possível acompanhar o desenvolvimento desse setor com o grande número de eventos direcionados para esse público e, embora no momento sejam apresentações digitais, certamente ocorrerão outras após o fim da pandemia. Esses eventos são fundamentais para conhecer investidores, parceiros comerciais e até mesmo sócios de negócios.
Essa vibração existe em Lisboa tal qual no Vale do Silício, mas qual é a grande diferença? Trata-se de quantidade. O Vale tem praticamente um ou mais eventos diariamente, gratuitos ou não e focados em diferentes tipos de pessoas, além de pequenos encontros como os que acontecem nas empresas, como Google, Microsoft e Facebook, portanto é um sistema muito maduro e sólido.
Em Portugal também encontramos essas iniciativas, como Web Summit que é um excelente evento para o grande público. Mas ainda assim é incomparável com o Vale do Silício.
Muitas coisas impactam no desenvolvimento de inovação no país, como a lentidão do governo, que ainda não entende como funcionam as startups e empresas focadas em tecnologia. Eu abri uma empresa em Portugal e em pouco mais de um ano acabei fechando, primeiro por conta da pandemia, visto que seria um ambiente para aulas presenciais, mas também devido a toda a burocracia que envolvia o negócio.
Atualmente tenho empresas nos Estados Unidos e no Brasil, as quais consigo movimentar remotamente. Em Portugal isso é um pouco mais difícil e, em comparação com esses outros países, podemos dizer que o país europeu ainda não está muito à frente nos quesitos de impostos e fiscalização.
Ainda assim, esses não são fatores intimidantes. Bem como no Brasil existem editais e programas que fomentam a área de inovação. É preciso estar sempre buscando essas oportunidades, pois com a aplicação e o crescimento do negócio é possível receber um bom pacote de investimentos.
Para formalizar o negócio é necessário estar em dia com o edital. Na maioria das vezes, o documento inclui a regra de que a empresa precisa estar em solo português, afinal o governo fará um investimento na startup e nada mais justo do que a empresa retornar esses valores para o país de origem.
Já existem boas condições para criar uma empresa inovadora em Portugal, mas muito diferente do Vale do Silício, que existe há muito tempo e solidificou o status de capital da tecnologia. Para alcançar esse patamar é necessário que ocorram algumas mudanças, como a desburocratização do governo, o aumento na quantidade de eventos e, é claro, o investimento de grandes empresas nas startups, a partir da compra desses negócios. No entanto, esse último deve acontecer com o amadurecimento do cenário no país ao longo dos próximos anos.